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O fim de Koffi Olomidé? |
A imprensa anglófona africana está cheia de histórias da procura do cantor congolês Koffi Olomidé pela a justiça francesa. Ele é acusado, entre várias ofensas, de rapto, violação e tortura de menores. A Interpol esta envolvida no caso.Há duas semanas, Koffi Olomidé esteve na Zâmbia, onde fez vários concertos a caminho da África do Sul. Segundo vários relatos, o artista soube que a Interpol iria prender-lhe e foi obrigado a fugir.
Ele atravessou a fronteira da Zâmbia com a República Democrática do Congo pela mata.
Este senhor, que a um certo momento foi descrito como o maior artista do continente africano (homem que era recebido em certos países africanos como se fosse um Chefe de Estado), tinha agora que recorrer aos caminhos do mato dos contrabandistas de açúcar. Há mesmo quem diga que a sua carreira internacional chegou ao fim.
É que antes mesmo da sua chegada já havia agitação na África do Sul, país onde os direitos das mulheres estão cada vez mais no topo da agenda nacional. Quando um concorrente ugandês ao «Big Brother» deu um soco numa menina que lhe incomodou, o publico sul-africano insistiu que ele deveria sair de imediato do programa.
As manifestações contra Koffi Olomidie na África do Sul iriam, sem dúvida, fazer manchetes internacionais.
Koffi Olomidé sempre assumiu a postura de um grande, como se diz em inglês, «Ladies Man» ou «Homem das Senhoras». Segundo vários artigos sobre ele na Internet, muitas mulheres africanas pensam dele como um amante perfeito. (No Ocidente, muitas mulheres vêem-no como um travesti, por causa da ornamentação excessiva dos seus trajos).
Koffi sempre apresentou o seu acto como um empreendimento onde as meninas – as famosas Koffietes – estavam não só prontas a dançar libidinosamente, mas também com uma extensão do seu harém.
Muita gente compra os DVD’s de Koffi Olomide porque tem-se a noção de que ele tem mesmo reações sexuais com as suas dançarinas. Mas, para esta encenação ter alguma acidez, as meninas tem que ser cada vez mais jovens e atraentes.
Nas acusações das autoridades francesas, diz-se que Koffi tinha relações sexuais com meninas entre quinze e dezassete anos muitas das vezes altamente masoquistas. O grande amante poderá,afinal, por detrás das cortinas, ser um verdadeiro monstro. Segundo certos sites congoleses, Koffi Olomidé teve uma discussão em pleno palco com Cindy Le Couer, uma das suas cantoras, que agora passou a ser cada vez mais conhecida.
Diz-se que Cindy começou a discutir com o homem depois dele ter criticado, de uma forma muito incivilizada, as dançarinas.
Eu acho que muitos homens africanos adoram Koffi Olomidé pelo seu machismo – cá está um homem que vai ao palco altamente certo do seu valor. O mundo fica à volta de Koffi Olomidé; as mulheres são, apenas para lhe apoiar.
O falecido cantor nigeriano Fela Kuti também tinha uma atitude muito machista em relação às mulheres. Fela não fazia nenhum segredo de que dormia com elas. Em 1982, Fela casou-se com vinte e sete das suas dançarinas duma só vez.
Ele, deve-se dizer, gostava de mulheres maduras;era tão boémio que entre as vinte mulheres figuravam antigas senhoras da noite. Soube-se, eventualmente, que toda a gabarolice à volta da virilidade de Fela Kuti não era nada mais do que espectáculo. Muitas das mulheres de Fela revelaram, eventualmente, que ele não era o grande amante que dava a entender ao mundo.
Ele acabaria por morrer em 1997, vítima da Sida.Voltemos, porém, ao nosso Koffi Olomidé. Acompanhei de perto a sua carreira internacional, ele que era muito popular na comunidade dos «congo-angolanos» em Londres, onde vivi nos anos 80 e 90. Nos anos 80, nos encontros africanos em Londres, a música dele predominava. Koffi, dizia-se, era muito diferente dos outros músicos congoleses porque tinha uma formação sólida.
Na verdade, ele tem uma licenciatura em Economia a partir de uma universidade francesa. Foi, também, o momento que muitos mitos à volta dele começaram a surgir. Por exemplo, diz-se que ele tem um Mestrado em Matemática a partir de uma universidade em Paris.
Duvido a veracidade deste facto. A um tempo passou-se a dizer que Koffi Olomidé era um dos principais accionistas da Coca-Cola em Atlanta. Já assisti a vários concertos seus em Londres e na Bélgica. Eram grandes espectáculos, nos quais as pessoas, muitas delas bastante pobres, se vestiam de uma forma altamente extravagante.
Passei, porém, a ter um desconforto marcado por um acto de Koffi Olomidé num concerto em Tottenham, subúrbio de Londres.
A certo momento, as suas dançarinas começaram a exibir-se. Não só elas eram muito jovens, como a sensualidade das suas danças eram quase pornográficas. Martin Sinnock, o jornalista americano que segue de perto a música congolesa, escreveu, em 2001, que quando viu as dançarinas que Koffi tinha trazido para os Estados Unidos, o que mais lhe marcou foi o facto de que elas eram muito jovens. Sinnock escreve que Koffi Olomidé não conseguiu captar grandes fãs americanos, como ele sonhava, porque muitas pessoas não estavam confortáveis com a juvenilidade das suas dançarinas.
Alegou-se já na altura que Koffi estava a explorar crianças. É que houve um tempo, quando Koffi Olomidé estava no topo da sua carreira, quando este artista congolês era altamente arrogante. No continente africano, muita gente passou a tratá-lo com muita deferência, o que não ajudou as coisas.
O homem, como várias vedetas, passou a ter a ilusão de que estava acima dos valores normais.
Quando as meninas que tinha levado para a França recorreram às autoridades alegando, que ele estava a abusar delas, Koffi ameaçou as suas famílias em Kinshasa. Para ele, tratava-se, aqui, do « droit du seigneur», ou o direito do chefe para ter relações com as suas subordinadas.
Para alguém que sonhava ser reconhecido por uma audiência não necessariamente africana, o seu orgulho não ajudava as coisas. Uma vez, antes de um concerto, Koffi foi aproximado por um jornalista do matutino londrino The Evening Standard.
O jornalista parece não ter feito uma pesquisa para saber quem, exactamente, era Koffi Olomidé. Ele achou as suas questões simples demais e mandou-lhe embora. O jornalista assistiu ao concerto, que descreveu como péssimo – o equivalente auricular de ter que correr uma maratona com bolhas nos pés.
Não há dúvida que o sonho de Koffi Olomidé era ser como um Youssou Ndour. O cantor senegalês é altamente respeitado no Ocidente. Nos Estados Unidos, gente com poucas ligações ao continente africano vão sempre aos seus concertos porque musicalmente Ndour é mais versátil.
É também muito serio e sempre figura em qualquer iniciativa de luta contra a Sida, malária ou pobreza. Na Youtube, as entrevistas de Youssour Ndour são interessantíssimas. As entrevistas do Koffi, porém, confinam-se a supostos atritos entre ele e outros cantores, como Papa Wemba, Fally Ipupa, etc.. Recentemente, quando esteve na Zâmbia, Koffi Olomidé, este suposto grande intelectual, deu várias entrevistas, nas quais não disse mesmo nada.
Cedo ou tarde, ele vai ter que dizer muito à justiça francesa.
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